domingo, 21 de março de 2010

Auto-mutilação: A urgência do sentir





O tema escolhido é silencioso e velado, tal como se apresenta diante da sociedade e no meio familiar Os pacientes com esse transtorno fere insanamente a si mesmo, com objetivo de aliviar e transpor dor psicológica e seu tormento. A dor física entra sobrepondo a dor psíquica , proporcionando instantes de calma e alívio interno pra quem o pratica. Porém, esse mecanismo é extremamente cruel não só no aspecto físico quanto psíquico, pois a pessoa se auto-destrói.Tende a sentir-se culpada depois do ato e retorna ao seu estado de tormento. O sentimento da dor física entra como um escudo de proteção deslocando os conflitos emocionais.A auto mutilação acaba se tornando um ciclo vicioso, sendo que o sujeito mutilado sente de imediato um alívio e logo volta ao seu estado de ansiedade e raiva de si mesmo e dos outros.
As pessoas que realizam tal ato, não se vangloriam dessas atitudes , apenas não encontram outras alternativas para sobrepor as suas dores, envergonham-se e refugiam-se cada vez mais nessas atitudes, sentem-se excluídas do mundo "normal", não conseguindo pedir ajuda para o alivio de suas dores afetivas. É importante a auto-mutilação não ser confundida com o masoquismo, chantagem emocional e tentativa de suicídio.
Pesquisas relatam que a auto-mutilação é mais praticada em mulheres do que em homens, em função da educação e socialização das mesmas serem mais opressoras no aspecto de não externalizarem seus sentimentos de raiva, agressividade, mantendo portanto a "raiva dentro de si", enquanto os homens são estimulados a expressarem tais sentimentos, não tendo que recorrerem as estas condutas. Os locais mais comuns para essa prática no corpo são: pulsos, braços,coxas,e pernas, porém , a face , seios e abdômen são locais cortados com menos freqüência.
As características psicológicas marcantes desse indivíduo são :baixa auto-estima associada com intensa auto- desvalorização, hipersensibilidade à rejeição apresentando altos níveis de sentimentos agressivos (especialmente consigo), ira , alta impulsividade, alteração de humor, percepção negativa em relação ao futuro, traços depressivos, ansiedade crônica , irritabilidade freqüente, apresentando ainda recursos internos insuficientes e isolamento.

matéria está no jornal de hoje de mato grosso do sul, campo grande, escrita por Adriana Camargo do Nascimento - Psicóloga Clínica- CRP14/01893-0 - Pesquisadoras das Causas Depressivas - Convênios: IMPCG / UFMS (PAS) - Fone 383 4195



A maioria dos profissionais dizem que se cortar está relacionado com o transtorno de bordeline....a pessoa que eu conheci que acabou me influenciando a fazer pela primeira vez, tinha.
A primeira vez que eu fiz, foi pra entender o pq ela fazia isso, já que me dizia q sentia alívio..peguei uma gilete daquelas quadradas que se encaixam naqueles aparelhos de se barbear de girar e abrir...as giletes vem em caixinhas. Eu não conseguia ir fundo na minha pele...mas fiz um risco que ficou apenas laranjado....doer não doía, mas ardia. Fiz no antebraço esquerdo...não sei pq me senti o máximo por ter feito aquilo...automaticamente eu comecei a querer fazer com mais freqüência...só por fazer....até que qdo eu ficava triste, eu escrevia poesias...isso tem sido assim ha um bom tempo...mas quando a tristeza vinha por algum motivo que me angustiava e eu estava presa no trabalho sem poder resolver, começava a ficar louca tentando adivinhar o que a pessoa poderia fazer se eu não chegasse a tempo como se ela pudesse entrar em um navio e desaparecer no mundo pra sempre e eu pudesse impedir..então eu me cortava pra me equilibrar...então riscava ao lado dos outros cortes só que uma distância muito maior...
Quando contei a pessoa que praticava o que fiz... me lembro muito bem o ódio que essa pessoa ficou, mais de si mesma do que de mim, foi imenso, o fardo pela influência foi tão grande que após me dizer coisas horríveis saiu da minha vida como auto-punição...e este meu desespero foi o início de tudo...minha culpa por ter feito uma coisa errada achando que era certa...sei lá pq, achava q ela iria curtir uma companheira...fiz o que fiz para compreendê-la, ajudá-la afinal...entrei no mesmo buraco mas essa não era a intenção.



Eu estava viciada naquela pessoa, que tinha tantos problemas que preenchia meu tempo todo, precisava muito de mim, e como eu sempre quis ser psiquiatra ou algum tipo de psi... ela era meu doce vício. Este desespero da falta fez-me voltar a vida inútil e mórbida que eu levava...a dor que eu sentia era imensa..escrevia poemas sombrios chegando a cinco por uma tarde....qdo as meninas que iam trocar de turno cmg chegavam, elas viam meus desenhos cheio de sangue, morte e lágrimas..pegavam na mão pra ver direito e liam os poemas...elas ficavam assustadas, comentavam...foi assim que me tornei a "gótica"..não conseguia usar nada além de preto, pintava os olhos de preto bem largos e as unhas tbm...fui me fechando em meu silêncio profundo e afastando todo mundo de mim...eu via as pessoas com medo, indo embora...mas não conseguia abrir a boca para segurar ngm...me culpava por isso...então os cortes começaram a ir para outros lugares...o primeiro corte mais fundo foi na barriga...nos pulsos eu escondia com munhequeiras do evanescence...qdo fui para coxas eu pensei que era uma sadomasoquista....mas eu acho que não sou...rs*..(este é assunto para outro tópico..)
Bem, eu estava com depressão...não dormia mais, ficava na internet todo minuto q não estava no trb..até que cheguei ao cúmulo de atender um entregador falando o que devia, escrevendo no papel e dando pra ele ler...conclusão óbvia, me deram férias e qdo voltei perdi meu cargo de gerência. Então me enterrei em meu quarto, se minha mãe ascendesse a luz eu gritava na hora...nada de abrir janela....nada de ver ninguém...quando todos dormiam eu saia do quarto e tomava banho...mas tbm comia o que achava na geladeira, na dispensa...e voltava pro quarto e chorava, chorava, chorava...de repente notei que estava engordando muito...e eu não tive forças pra mudar a situação...não fiz nada pra mudar o quadro, só chorava, e qdo comia, chorava mais ainda...e os cortes foram cada vez mais freqüêntes...
Perguntei ao meu amigo tbm chamado "estranho" o que ele gostava de ouvir..resposta "lacrimosa".... então ouvi uma música e amei..ganhei os álbuns no aniversário e era só o que eu ouvia..minha favorita tem no final um coração batendo q pára...minha mãe foi quem mais sofreu....ela não conseguia se aproximar de mim então...ela chamou um padre pra me exorcizar..nunca vou esquecer isso....ela achava q lacrimosa era o demônio falando comigo...quando vi o padre comecei a rir....da situação...mas já tomei uma aspergida de água benta na cara...eu podia ter interpretado uma queimadura...mas eu não tinha ânimo pra isso. eu não mudei nada com isso...quando me vi 22 k mais gorda eu quis me matar, e isso era bem diferente de quando me mutilava...eu sentia o vento bater no corte, ardia e eu me sentia viva...nem lembrava de meu problema, o que é muito diferente de querer se matar...aprontei mil coisas pra obter meu fim desejado...até o cúmulo de tentar me afogar na pia do banheiro...o chão da casa da minha mãe era branco...ela acordava e já via pingos de sangue por toda casa, todo dia...conseguiram me levar no psiquiatra em três...eu não falei nada pra ele, mas só de ver meu estado, olheiras, cicatrizes...já me botou pra dormir, pelo menos minha mãe podia ficar tranquila em casa que não teria nenhuma surpresa....
Eu dei trb nesse sentido pra minha mãe.... posso escrever um livro de formas de suicídio pq foram muitas. Mas este não é o tópico, nem ele é sobre minha vida...
A auto-mutilação pode ser feita com cacos de vidro, lata de refrigerante, quebrar canetas, tesoura, abrir clipes e esquentar...qq objeto q possa cortar ou dê para fazer ponta.
Eu não sei explicar, mas todos que conheço que faziam isso era pelo mesmo motivo, sanar uma dor espiritual com uma dor física....e dá certo.
Eu cheguei no fundo do abismo...mas eu saí dele sozinha, um belo dia eu levantei, abri a janela e fui procurar trb...em dois meses eu estava empregada e então cortei as pontas do cabelo, voltei a ser mulher..tudo pq eu sempre tive como maior desejo de vida ter uma faculdade...não foi uma gorda que o espelho me mostrou, foi também uma garota vencida pela vida qnão realizou nenhum sonho, não tirou carta aos 18 anos, não entrou pra faculdade e o tempo dançava em mim...foi isso que não aceitei e resolvi mudar. Mas eu precisava de um trb pra pagar o cursinho pra entrar pra faculdade, afinal minha meta era uma federal. fiz um ano intensivo no objetivo, pagando com o salário do Frans Café..( que nota-se, amava o cheiro daquele lugar... )... eu passei na federal... UFSCAR ... 5 estrelas em psicologia, 51 por vaga, oitavo lugar...mas devido meus problemas rescentes...minha mãe não me deixou mudar de cidade...então eu sofri muito...muito mesmo....foi quando ela começou a se empenhar em me casar pra passar a responsabilidade a diante e ter paz.
Sempre fui sozinha, eu mudei minha vida por conta própria, bem como estava na escuridão por prazer. Eu acabei me viciando em mutilação...mas eu estava livre disso a muito tempo...eu fraquejei no carnaval...eu me feri..fiz um corte de 5 centímetros ao lado de meu coração...nada profundo...somente um risco...e que bom que as aulas voltaram e estou me ocupando pq assim, evito ter tempo para pensar em qq coisa ruim.
O que toda essa fase ruim fez por mim, foi deixar marcas profundas...fiquei um pouco dependente de pessoas queridas...e...o pior, minha auto-estima que jamais se reergueu...por isso eu posso dizer, mesmo com o evento do carnaval, que hoje eu estou bem...pq eu sei o quão negro meu passado foi.
eu sei que não quero voltar a ser assim, que sou esforçada e mais que isso eu tenho um lado bom, meigo, amigo, criativo, e tudo isso junto constrói o ser que eu realmente sou, ou seja, não tenho somente coisas ruins.
Não sou um monstro, não se afaste.....não tenha medo de mim.


Fonte:http://mentes.forumeiro.com/topicos-off-f3/auto-mutilacao-ou-cutting-t18.htm

5 coisas que você deve saber sobre Automutilação

1. O que é a Automutilação?

A automutilação é definida como qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio. As formas mais freqüentes de automutilação são cortar a própria pele, bater em si mesmo e queimar-se.

2. Por quais razões a Automutilação se desenvolve?

Embora as causas da automutilação ainda não estejam bem definidas, há evidencias de que fatores neurobiológicos e fatores psicossociais, como características de personalidade mais impulsiva e compulsiva, bem como a história de vida e o ambiente colaboram para o surgimento da automutilação. Os pacientes descrevem o início da automutilação após vivência de forte emoção, como raiva, utilizando este comportamento como forma de lidar com a emoção, um comportamento com características impulsivas. Com o decorrer do tempo, o paciente observa que obtém alivio de sensações ruins e passa a repetir a automutilação com o objetivo de obter alívio novamente. Começa a planejar e, muitas vezes, ritualizar a realização do ferimento. Estes comportamentos podem ser desencadeados por uma vivência traumática ou apenas pela lembrança desta.

Alguns dos fatores de risco relacionados a automutilação são: abuso emocional, físico ou sexual na infância; conflitos familiares; abuso de álcool e tabaco ou outras substâncias; adolescente vítima de “bulling”; presença de sintomas depressivos, ansiosos, impulsividade e baixa auto-estima.



3. Como sei identificar se alguém está com esse problema?

As pessoas que apresentam automutilação sentem vergonha e medo de revelar este comportamento, por isso procuram esconder as lesões e as fazem solitariamente onde não podem ser observadas. Elas reconhecem que este comportamento não é bem aceito pelas pessoas.

Desta forma, você poderá desconfiar que alguém apresenta automutilação quando essa pessoa:

a) Costuma usar roupas de mangas longas, mesmo no verão, com altas temperaturas;

b) Apresentam várias cicatrizes ou lesões repetidas e tem dificuldade para explicá-las;

c) Isola-se evitando situações onde seu corpo pode ser exposto, como praia ou piscina;

Vale lembrar que estas pessoas podem apresentar sintomas depressivos e de fobia social associados.

4. A Automutilação tem tratamento?

Sim, a associação psicoterapia e medicação tem se mostrado eficaz nos casos de automutilação. A psicoterapia, nestes casos, tem como um dos objetivos ajudar o paciente a identificar outras formas de lidar com frustrações, que sejam mais eficazes do que seu comportamento. Ainda não há medicação específica indicada para que o paciente pare de se mutilar, entretanto, a medicação pode ser indicada para alívio dos sintomas depressivos e ansiosos que podem colaborar para a manutenção do comportamento. Há também medicações que são usadas para diminuir a impulsividade e que ajudam o paciente a resistir a vontade de se machucar, caso esta apareça.

5. A quem devo buscar para pedir ajuda/auxílio?

Buscar profissionais da área de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. Seria mais indicado profissional com experiência no tratamento de pacientes com automutilação, pois estes pacientes apresentam algumas peculiaridades. Caso estes profissionais não estejam disponíveis, uma vez que são raros os profissionais com experiência em automutilação, seria indicado profissionais com experiência em transtornos do impulso.

Jackeline Suzie Giusti, psiquiatra; Mestre em Psiquiatria pelo Departamento e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq – HCFMUSP); Psiquiatra responsável pelo atendimento dos pacientes com Automutilação no Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso. E-mail: jsgiusti@terra.com.br / Consultório: (11) 3085-9832 ou 3891-1504

Para tratamento gratuito da Automutilação

Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do IPq- HCFMUSP pelo tel: 11 3069-7805 e para mais informações pode-se acessar o site: www.amiti.com.br



Fonte:http://oqueeutenho.uol.com.br/portal/2009/09/04/5-coisas-que-voce-deve-saber-sobre-automutilacao/

Automutilação, um transtorno psiquiátrico mais comum do que se imagina

Uma pesquisadora do Hospital das Clínicas acompanha um grupo de cerca de 20 pacientes que se mutilam para tentar descobrir se a prática é uma doença isolada ou um sintoma de outras patologias, como depressão, transtorno obsessivo compulsivo e transtornos alimentares

(José Antonio Lima)

À primeira vista, quando se ouve falar em automutilação ou autoflagelação, a maior parte das pessoas pensa em cenas praticadas por extremistas religiosos. O que poucos sabem é que esse comportamento nem sempre está associado ao fanatismo, mas sim a um tipo de transtorno psiquiátrico um tanto comum.



DOR FÍSICA
Fazer cortes no próprio corpo é algo comum para quem pratica a automutilaçãoO fenômeno da automutilação ainda é pouco estudado pela psiquiatria, mas algumas pesquisas realizadas em escolas e universidades dos Estados Unidos apontam que 16% das pessoas têm comportamento como esse. Na população como um todo o índice pode ser menor, mas os universos pesquisados são esses porque os adolescentes e jovens adultos são os mais afetados. "O início do quadro se dá na adolescência, entre 13 e 15 anos, às vezes até antes, e pode durar muito tempo. Há casos até de pessoas com 40 anos que praticam a automutilação", diz Jackeline Giusti, psiquiatra do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti), do Hospital das Clínicas, em São Paulo, que realiza uma pesquisa de doutorado com pessoas que sofrem desse transtorno.



Segundo ela, a primeira agressão contra o próprio corpo costuma acontecer em um momento de raiva ou angústia intensa. Bater a cabeça contra a parede ou dar um soco contra uma porta podem ser os primeiros atos. Depois, começam as queimaduras e cortes com instrumentos como com facas, estiletes, compassos e arame. "Elas percebem ter se acalmado após a agressão, e usam isso para diminuir as sensações ruins", afirma Jackeline.

A busca por essa sensação de alívio é o motivo mais comum para a automutilação, segundo a psiquiatra, mas algumas pessoas fazem isso para se castigar e outras como artifício para chamar a atenção de familiares. Esses casos de carência, no entanto, são raros. "As pessoas que se automutilam sabem que esse comportamento não é aceito pela sociedade e, assim, agem em segredo", diz Jackeline. É isso que impossibilita muitas pessoas de contar para a família e, principalmente, procurar ajuda sozinhas.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI19858-15254,00.html

Os cortes que aliviam a dor da alma

Por Maria Laura Neves

Machucar a pele para aquietar a mente. Assim os praticantes da automutilação definem o transtorno que os persegue. Eles se batem, se queimam, até quebram os ossos em momentos de raiva ou tristeza profunda. Aqui você vai ler o relato e os trechos do diário de uma jovem de 25 anos que dilacerava a pele quando o sofrimento interno era insuportável. Ela diz que não se mutila há um ano e três meses, mas ainda luta para superar a depressão



A artista plástica Beatriz*, 25 anos, poderia ser uma jovem comum, dessas que gostam de ir ao cinema, namorar e sonham em construir uma carreira. Mas por baixo das roupas, ela esconde um segredo: cicatrizes de várias formas e tamanhos. Profundas, rasas, algumas pequenas, outras nem tanto. As marcas na pele de Beatriz não existem por causa de um acidente, mas porque ela mesma as provocou. Até pouco tempo atrás, cortava-se com estiletes e facas de cozinha para aliviar a dor de viver. Em outras palavras, provocar dor física, rasgando a pele, deixava a alma momentaneamente calma. Dava prazer. Mas também vergonha -que, assim como as cicatrizes, ficou até hoje. Por isso ela não revela sua identidade. 'Sempre escondi de todos que eu me cortava. A vergonha era tanta que nunca fui ao pronto-socorro dar pontos nos cortes, por mais que soubesse que eles eram necessários', diz.

Beatriz começou a se automutilar na adolescência, aos 12 anos, quando ela se frustrou profundamente com uma nota baixa (D) em uma prova de inglês. Inconformada e com raiva de si mesma, começou a bater a cabeça na parede. Era hora do recreio e a sala estava vazia. Só parou quando a cabeça latejou. O galo roxo no meio da testa trouxe calma, alívio e tranquilidade. 'Fiquei decepcionada comigo mesma. Sempre fui muito perfeccionista, tinha quer ser a melhor em tudo. Na prova seguinte tirei A.' Beatriz descobriu, então, um remédio acessível e eficiente para estancar a dor: machucar o corpo. Daquele dia em diante, começou a se dar tapas, mordidas e socos nos braços e nas pernas todas as vezes em que ficava triste ou com raiva. Dez anos mais tarde, no auge de uma crise de depressão, começou a se cortar com arames, facas, lâminas e qualquer objeto afiado que estivesse ao seu alcance. Mutilou braços, pernas, tornozelos e mãos.

Há três anos, Beatriz faz sessões de terapia com uma psicóloga e toma remédios para superar a automutilação, um transtorno emocional antigo, mas pouco estudado pela ciência. Tornou-se mais conhecido nas últimas semanas, depois do episódio da advogada brasileira Paula Oliveira. Ela foi acusada pela polícia suí-ça de se automutilar para conseguir indenização do governo, alegando que os cortes foram feitos por neonazistas.

Os automutilados se batem, se cortam, se queimam e até quebram os ossos quando não conseguem lidar com a angústia, a tristeza, a raiva e outros sentimentos difíceis de suportar. Eles não querem pôr fim à própria vida com os cortes. No início, desejam apenas se punir, mesmo que inconscientemente. O primeiro machucado quase sempre acontece por impulso. Muitos dão socos nas paredes, furam as mãos com a ponta do compasso, da lapiseira, com a lâmina do estilete ou um caco de vidro durante um acesso de raiva. Depois de machucados, dizem que se sentem aliviados. A dor física ameniza a emocional. Lesionar-se intencionalmente acaba se tornando a saída para os momentos dolorosos, um vício, como drogas ou álcool.



'Uma hora o arame deixou de satisfazer. Passei para o estilete. Depois gilete'
No Brasil não existem números oficiais da quantidade de pessoas que se machucam para alivar dores psíquicas. Só no Orkut existem mais de 20 comunidades relacionadas ao assunto. As maiores têm cerca de 600 participantes. Lá, pode-se ler relatos macabros. Em um deles, um participante que se diz gay afirma ter cortado o pênis por não lidar bem com a homossexualidade. 'Cortei o que me incomoda', escreve. No site YouTube, também há vídeos sobre o transtorno, muitos deles feitos por adolescentes que exaltam a automutilação.

Nos Estados Unidos, os estudos são mais avançados. Uma pesquisa publicada em 2006 mostrou que 17% dos jovens entre 18 e 24 anos em uma universidade americana já haviam se cortado intencionalmente uma vez na vida. E 75% deles levaram a prática adiante, sem a intenção de se suicidar. Wendy Lader, presidente da clínica americana S.A.F.E. Alternatives, especializada no tratamento do transtorno, diz que apesar da falta de estatísticas, percebe um crescimento no número de pacientes. 'Em 22 anos de trabalho já tratamos três mil pessoas. Nos últimos anos passamos a ser procurados por indivíduos comuns, médicos e educadores do mundo todo interessados em mais informações. A maioria conhece o problema porque alguém próximo se machuca e logo depois nos procura.'

No Brasil, a maioria dos automutilados ainda está desamparada. O único centro de terapia por aqui é o Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso, ligado ao Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo, que trata vários transtornos psiquiátricos, entre eles a automutilação, onde Beatriz faz terapia. 'Antes de conhecer o HC, fui a três psiquiatras que ficaram assustados com o meu problema e não sabiam o que fazer', diz. 'Saí desolada de uma consulta porque o melhor profissional que visitamos mostrou despreparo e me perguntou qual remédio deveria receitar', diz Joana*, mãe de Beatriz.

A origem do transtorno ainda é confusa para os especialistas. Uma parte dos estudiosos defende a ideia de que a autolesão é, sim, uma doença em si. Acreditam na hipótese de que os cortes liberariam mais endorfina em algumas pessoas do que em outras. Quando a substância age no cérebro, provoca sensação de bem-estar que diminui a ansiedade e a tristeza. É dessa maneira que a mutilação acaba se tornando um vício. A outra parte dos especialistas acredita que a automutilação é um sintoma de doenças emocionais, como a depressão. 'Geralmente, está associada a outros transtornos como a dependência química', diz a psiquiatra Jackeline Giusti, responsável pelo ambulatório do HC. 'A maioria das pessoas que se mutila tem dificuldade de lidar com a vida sentimental. Algumas foram abusadas sexual ou fisicamente na infância. E metade delas sofre de algum distúrbio alimentar', diz Wendy, da S.A.F.E.

Fonte:
http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0,6993,EML1696682-1740,00.html

Distúrbios psicológicos podem desencadear automutilação, dizem especialistas

FERNANDA PEREIRA NEVES
MARINA NOVAES
da Folha Online

Atualizado em 18/02/2009 às 17h31.

A polícia suíça defende que a brasileira Paula Oliveira, 26, cometeu automutilação. Ela, no entanto, afirma que foi atacada por supostos skinheads e teve o corpo marcado por símbolos nazistas feitos com estiletes.

O diretor do Instituto de Medicina Forense da Universidade de Zurique, Walter Bär, afirmou que a brasileira não estava grávida, como havia sido informado, e que teria ela mesma feito os ferimentos em seu corpo.

De acordo com a psicoterapeuta Maura de Albanesi, diretora do Instituto de Psicologia Avançada de São Paulo, a automutilação é um distúrbio comum que pode ser provocado por uma série de patologias psicológicas.

"Normalmente a automutilação surge da culpa. A pessoa muitas vezes nem sabe de onde surgiu essa culpa, mas sente a necessidade de se ferir", afirma Maura. "Em alguns casos avançados [de depressão], a pessoa se mutila para deixar de sentir aquela tristeza toda."

A psiquiatra Jackeline Giusti, coordenadora do Ambulatório de Automutilação, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, também relaciona os casos de automutilação com diferentes problemas psiquiátricos que podem variar desde esquizofrenia e transtorno bipolar até depressão.

Ela ainda destaca que "as pessoas que praticam automutilação fazem isso de forma consciente e não tem relação com qualquer impulso suicida".

Essas lesões são normalmente feitas em locais que não permitam familiares e amigos verem os ferimentos. "Geralmente eles fazem essas lesões em locais que não possam ser vistos, mas pode acontecer de fazerem isso para conseguir algum ganho, ou para chamar a atenção", afirma Jackeline.

No caso da brasileira, Jackeline destaca que é muito raro casos de pessoas que praticam a automutilação fazerem desenhos. "Geralmente a automutilação corresponde a cortes simples feitos em locais como braços e pernas".

Marcas

Segundo Maura, a automutilação pode ocorrer até mesmo em casos de ciúmes. "É quando o ciúme se transforma em uma patologia psicológica, e a pessoa se fere para atingir o outro", diz.

Já em casos de surtos psicóticos, por exemplo, o paciente pode ter delírios e fantasiar uma agressão. "A pessoa realmente acredita naquilo. E quem não sabe que a pessoa tem um problema psicológico acredita na versão dela, porque para ela aquilo é uma realidade e ela conta como se realmente tivesse acontecido, até com detalhes", afirma Maura.

Gravidez psicológica

De acordo com a família da bacharel em direito brasileira, Paula estava no terceiro mês de gestação de gêmeos. Porém, a polícia e a perícia negam a versão da família.

Segundo Maura, não é raro o caso de mulheres desenvolverem uma gravidez psicológica. "Na gravidez psicológica a barriga cresce, o corpo muda. É como se o corpo respondesse aos estímulos enviados pela mente", afirma.

Tanto no caso da gravidez psicológica, quanto na automutilação, Maura recomenda o tratamento medicamentoso --sempre com o indicado por um médico-- e o tratamento psicológico. Segundo a especialista, em alguns casos é recomendada a internação.



Fonte:
Distúrbios psicológicos

sábado, 20 de março de 2010

Início



Decidi criar este blog para divulgar um problema sério que ocorre entre pessoas de ambos os sexos e com idades variadas,porém, com o mesmo tipo de problema: A AUTO MUTILAÇÃO.

Algumas postagens serão criadas a partir de dados coletados em sites, e todas as fontes serão incluidas na postagem.